quarta-feira, 18 de julho de 2007

As Ensaladas segundo... Paulo Brandão













Quando estava a frequentar o final do Curso Geral do Conservatório, (cerca de 1970/71) tive oportunidade de conhecer Constança Capdeville e nesse contacto fui despertado para uma outra estética que mais tarde Eduardo Sérgio denominou “Intermédia”,ou seja a possibilidade de uma fusão em que as várias gramáticas se interpenetram numa outra linguagem, criando um novo objecto. Um objecto de síntese. Não se trata, portanto, de uma mistura de várias expressões, mas antes uma nova linguagem verdadeiramente sincrética e de uma amplitude enorme, que sujeita os intérpretes a uma apreensão poliestética e a um domínio cabal da expressão em diversos géneros ( musical, teatral, corporal, etc ) Sob esse ideal, foi imaginado o espectáculo Ensaladas. Já no projecto de Mateu Fletxa está bem presente a ideia de multiplicidade e coexistência de expressões ao nível do poético e inevitavelmente no plano da estrutura composicional musical. O salto do cómico ao dramático ou do profano ao sacro tem também um paralelismo nas métricas ou em dialectos importados (Crioulo, Castelhano ou Catalão etc) assim se justifica o próprio titulo e se dignifica a universalidade.Justificado e defendido pela ideia primitiva, naturalmente se despertou o movimento e se solicitou interiormente os ecos de Gil Vicente no seu Auto da Barca do Inferno, para que a Ensalada seja mais vasta e se projecte para além do espaço. Por fim a revelação das Marionetas, como que uma multiplicação paralela dos personagens.
Assim se reuniram e motivaram as simbioses que caracterizam o ideário de uma linguagem de compromisso entre várias expressões.


Paulo Brandão

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